terça-feira, 5 de agosto de 2008




uma mulher sozinha no apartamento.
no frio do carpete sujo, que aquece os pés,
nua. completamente nua, sentada, olhos que se evolam
pelas paredes, vitrais do quarto.
o computador faz ruídos, às vezes.
é esquia e magra: vazia, é tia, avó, irmã, sem nexo.
está nua e só frente às máquinas.
não há faunos! Florestas
foram concatenadas no seu pensamento.
em que pensa uma mulher sem cajados,
sem vestido branco,
na brancura da pele lisa?
seria mais de meia-noite, haveria livros pelo chão,
todos abertos:
ela abre a página, mói o livro, joga o livro
e vem sentar-te ao meu lado, Lídia,
ela vigia o branco pelos espaços de folhas
entre linhas tão correlacionadas,
ela saboreia relações, depois: joga.
joga fora, no chão acarpetado do apartamento, joga e ri.
e vem sentar-te à minha frente, Lídia,
não sou tão máquina que não possa causar
no teu ventre
um espasmo cheio de palavras.


Telma Scherer, Desconjunto, p.92.

Nenhum comentário: